Adriana Amaral

Você é Aquilo que Você Come


[...] a gente não quer só comida
a gente quer comida, diversão e arte.
a gente não quer só comida,
a gente quer saí­da para qualquer parte.

(Comida, Titãs)
A instalação Você é aquilo que come, de Adriana Amaral, é composta por uma série de fotografias coloridas de interiores de geladeiras. Impressas sobre papel transparente clear film, iluminadas com auxilio de sensores fixados no teto, as imagens em escala real criam um cenário que desperta mais do que um simples interesse sobre o colorido dos alimentos. Ele aponta para uma discussão crí­tica sobre o modo como a individualidade hoje é moldada pelos hábitos alimentares.

Se por curiosidade formos pesquisar no Google a frase " você é aquilo que come" chegaremos a aproximadamente 15.800.000 resultados. Embora seja notória a amplitude do meio virtual, não há como não se surpreender diante da numerosa quantidade de endereços eletrônicos sobre um assunto supostamente de natureza tão prosaica. Resta então indagar: o que de fato desperta o interesse em tal enunciado judicioso?

 Tentando esmiuçar a questão, dizer que alguém é aquilo que come, além de não estar isento de um  julgamento de valor, parece conduzir uma discussão em que a individualidade passa agora a ser mediada pela ingestão de alimentos. Essa breve constatação torna-se ainda mais surpreendente quando avaliada como sintomática de uma época em que somos a todo tempo solicitados (ou cooptados) pelos meios midiáticos a seguir certos padrões de comportamento que retiram do indiví­duo até mesmo a possibilidade de decisão sobre o que comer. Nesse sentido, o trabalho de Adriana Amaral torna-se um convite a uma reflexão mais adensada sobre um cenário cultural contemporâneo em que o sujeito e sua individualidade parecem não mais encontrar lugar possível.

 

Carolina Soares