Adriana Amaral

Cofre


Guardar uma coisa não é esconde-la ou trancá-la.

Em cofre não se guarda coisa alguma.

 Em cofre perde-se a coisa à vista.

 Antônio Cí­cero


A série Cofre (2013) recebeu esse nome com base no poema Guardar de Antônio Cí­cero. Composta por um conjunto de seis fotografias, e se coloca como um contraponto a outro projeto que realizei intitulado Lugares que moram para sempre (2012). Em Lugares que moram para sempre o envelhecimento humano é abordado através da deterioração da casa onde meus pais moraram durante 49 anos, sendo protagonistas dessas fotografias os mofos nas paredes, os rebocos caindo e o piso manchado e desbotado; em Cofre, a disposição dos objetos de decoração na mesma casa, sua longevidade e seu estado de conservação sugerem o cuidado e a importância que possuem ou tiveram aos seus proprietários e a preservação de uma história através deles.

Conforme explorava os cómodos dessa casa, agora vazia devido à  doença de minha mãe e que outrora também havia sido meu lar, descobri cristais, peças de prata e vidro guardados em armários há muitos anos. Distante do olhar dos outros e de suas possí­veis funções práticas, os objetos encontrados nessa condição sugeriram a aproximação com o poema de Antônio Cí­cero. Assim, ao me deparar com esse volume de objetos guardados e aqueles mantidos  permanentemente em exposição sobre os móveis da residência , passei a refletir sobre o guardar. Por que guardamos as coisas e a espera do que?

Como resposta a esses questionamentos e tendo o envelhecer das pessoas de suas casas e pertences como pano de fundo, construí­ composições com esses objetos encontrados que remetem à natureza morta, seu significado como imagem e como tradição da arte.