Adriana Amaral

Fragrâncias


A harpa produz sons murmurantes;

e a dança continua sem mãos nem pés.

Ela é tocada sem dedos, e é escutada sem ouvidos:

pois Ele é o ouvido, e Ele é o ouvinte.

O portão está trancado, mas, dentro, há uma fragrância:

e lá, o encontro é visto por ninguém.

O sábio compreenderá isso.

Canção de Kabir - III.84. jhi jantan bajai

 

A série Fragrâncias, composta por fotografias e videoinstalação, foi construí­da a partir

de imagens de peixes Betta, confinados isoladamente em aquários. Os

machos da espécie de peixes Betta, geneticamente modificados, tornaram-se

mais belo fenotipicamente e mais violentos que o normal. São conhecidos

popularmente como "peixe de briga". Vivem sozinhos devido à sua agressividade.

No entanto, Fragrâncias funciona como contraponto a este dado. Gera tensão

entre violência e sedução. Para tanto, aciona diferentes ferramentas: cores,

movimentos, ritmos, segredos, silêncio, solidão. Fragrâncias capta a sedução

iridescente e a violência apaziguada pelo silêncio e solidão do peixe Betta - que

lhe são próprios.

 

Fragrâncias I, as fotografias são instaladas com um generoso espaçamento entre

elas, de modo a transpor para o espaço expositivo o isolamento necessário para

que cada peixe reside, antes de entrarem na "rinha" de animais. As fotografias

congelam recortes da beleza inventada do Betta. O ritmo, o movimento deixam-

se transparecer no esplendor de suas cores.

 

Fragrâncias II, flagra-se a beleza exibida do Betta nas ondulações dos movimentos.

Para a videoinstalação, trás pequenas paredes quadradas formando um

ambiente em "U". Em cada parede serão projetadas as imagens dos peixes.

Abafadores de ruídos serão oferecidos ao público com o objetivo de emudecer a

agressividade da situação de "rinha", experienciar a solidão e seu silêncio e

atenuar a beleza. 

Adriana Amaral