A harpa produz sons murmurantes;
e a dança continua sem mãos nem pés.
Ela é tocada sem dedos, e é escutada sem ouvidos:
pois Ele é o ouvido, e Ele é o ouvinte.
O portão está trancado, mas, dentro, há uma fragrância:
e lá, o encontro é visto por ninguém.
O sábio compreenderá isso.
Canção de Kabir - III.84. jhi jantan bajai
A série Fragrâncias, composta por fotografias e videoinstalação, foi construída a partir
de imagens de peixes Betta, confinados isoladamente em aquários. Os
machos da espécie de peixes Betta, geneticamente modificados, tornaram-se
mais belo fenotipicamente e mais violentos que o normal. São conhecidos
popularmente como "peixe de briga". Vivem sozinhos devido à sua agressividade.
No entanto, Fragrâncias funciona como contraponto a este dado. Gera tensão
entre violência e sedução. Para tanto, aciona diferentes ferramentas: cores,
movimentos, ritmos, segredos, silêncio, solidão. Fragrâncias capta a sedução
iridescente e a violência apaziguada pelo silêncio e solidão do peixe Betta - que
lhe são próprios.
Fragrâncias I, as fotografias são instaladas com um generoso espaçamento entre
elas, de modo a transpor para o espaço expositivo o isolamento necessário para
que cada peixe reside, antes de entrarem na "rinha" de animais. As fotografias
congelam recortes da beleza inventada do Betta. O ritmo, o movimento deixam-
se transparecer no esplendor de suas cores.
Fragrâncias II, flagra-se a beleza exibida do Betta nas ondulações dos movimentos.
Para a videoinstalação, trás pequenas paredes quadradas formando um
ambiente em "U". Em cada parede serão projetadas as imagens dos peixes.
Abafadores de ruídos serão oferecidos ao público com o objetivo de emudecer a
agressividade da situação de "rinha", experienciar a solidão e seu silêncio e