Lugares que moram para sempre é uma série iniciada em 2012 e conta com três
diferentes períodos, são eles:
Lugares que moram para sempre I (2012) foi o período em que fotografei a casa de minha mãe, lugares
comuns e singulares. Os objetos protagonizam e nos contam sobre seu gosto, caráter
e a atitude que assumiu em relação ao mundo, além de histórias e crenças
familiares;
Em Lugares que moram para sempre II (2012), dirijo meu olhar sobre a casa
dos meus pais. O envelhecimento humano é abordado através da deterioração da
casa onde meus pais moraram, durante 49 anos. Os mofos nas paredes, o desmanche
do reboco, o piso manchado e outras decrepitudes marcam a casa e funcionam como
alegoria do corpo;
Na última etapa (Lugares que
moram para sempre III), realizada entre 2012 e 2019, vesti um manequim feminino com
cinco peças íntimas que pertenceram à minha mãe, datadas do seu
enxoval de casamento. Foram encontradas durante a mudança de meus pais, em
2012, realizada por causa de uma doença que há nove anos impossibilitou minha
mãe de se locomover pela casa. Em 2013, apresentei a imagem do peignoir em Dias e Noites,
uma exposição realizada na casa dos meus pais. Montada com objetos esquecidos e
abandonados, a exposição contou com imagens realizadas a partir de álbuns
de família, fotografias realizadas meses antes da mudança, instalação sonora e
filme 8 mm. Nesses sete anos de criação da série, tenho imaginado as peças
íntimas como trocas de pele. É o mesmo princípio do animal que tem a sua pele e
pode trocá-la. Em
zoologia temos o termo ecdise, o qual
significa o processo de crescimento dos répteis e artrópodes ou muda do exoesqueleto nos animais, que apresentam este modo de crescimento. A ecdise
determina as fases de crescimento desses animais. Portanto, no tratamento das imagens
reconheço toda a importância de pequenos furos, rasgos, linhas soltas e manchas
amareladas. Essa pele sem corpo, mas que ao mesmo tempo tem um “corpo”
fantasmático a modelar essa pele. Esse “corpo” que restou depois da troca de
pele é a representação da juventude, das expectativas, da família construída, dos
sonhos, escolhas, anulações e desejos.
A série Lugares que moram para sempre, reflete
sobre memória, intimidade, relações
familiares, gostos das pessoas. A serie
surgiu do pensamento principal de guardar para mim uma lembrança de como era a
casa dos meus pais, a qual nasci e morei com eles por 40 anos. O material para
produção das obras também foi minuciosamente pensado, assim como seus
respectivos tamanhos. A maneira como as obras foram produzidas faz parte do
pensamento.
Adriana Amaral