Adriana Amaral

Eterecer


Eterecer, 2021

 

O trabalho Eterecer, consiste em uma instalação com fitotipias, processo de transferência de uma fotografia para uma folha vegetal através da luz e acetato. Nas fitotipias apresentadas em folhas de taioba, serão utilizadas unicamente fotografias de meus familiares que já faleceram.

O trabalho apresenta um conjunto com aproximadamente 48 imagens, cujas dimensões podem variar entre 12 x 10 cm a 58 x 50 cm. A fitotipia pode ser realizada em diferentes folhas, porém a escolha da taioba se deu por dois motivos principais. O primeiro, por cultivá-la em meu quintal e o segundo, por uma memória afetiva – quando criança tive uma anemia profunda e minha avó paterna cozinhava taioba para mim. As obras que apresentarei não receberão nenhum tratamento para fixação das imagens, pois elas pressupõem o seu esmaecimento, assim como a memória. Do mesmo modo que o tempo atua sobre os corpos humanos, as folhas onde a fitotipia é realizada continuará a sua senescência. No processo de criação, as folhas rasgadas e mofadas são incluídas, mimetizando, dessa forma, as feridas, as marcas do tempo e o envelhecer.

Eterecer, palavra criada por mim, resulta da junção de éter que possui três significados principais: 1. aether, do latim, ar ou céu; 2.  aithér, do grego, a região mais alta da atmosfera; 3. Substância volátil e do sufixo verbal escer, do latim, transformação, mudança de estado. Neste projeto, Eterecer conota a transformação daquilo que é diluído, fluído, incontível e não sólido em memórias materializadas nas imagens através da fotossíntese. Eterecer trata, especialmente a partir do conceito de memória, de um trânsito poético entre recordar, sublimar e fotossintetizar, discutindo um modo metafórico de transformar potências poéticas – lembranças, sentimentos, emoções e energia – em fluxo de vida.

 

A memória é um lugar de coabitação para onde convergem questões como corpo, intimidade, lugar e habitar. Ela constrói um terreno múltiplo e simbiótico, onde tudo se reorganiza criando um nexo. 

Eterecer, transforma experiências e lembranças familiares em objetos estéticos que revelam uma identidade construída por mim. Aborda metaforicamente a ideia de coabitar, ao acolher imagens e recordações através da transformação e transposição de visualidades.

A fotossíntese assume uma definição específica em Eterecer. Ela se caracteriza, originalmente, na transformação da energia solar em vida. O sentido simbólico que é adotado neste projeto compreende fotossíntese como um processo alquímico, que transforma o imaterial em material. Ao mesmo tempo em que essa transmutação acontece nos trabalhos, ela é proposta ao visitante como fluxo de vida. 

Por fim, em Eterecer a alquimia memória-imagem converge e instaura um processo fotossintético, literal e figurativamente poético. As pessoas fotografadas permanecem sempre jovens, embora muitas dessas imagens sejam centenárias. A experiência do tempo acontece no presente e em nós. Eterecer é uma imersão no tempo, a partir de nós.


Adriana Amaral