Dias e Noites reúne
fotografias realizadas na casa em que a exposição será montada, lugar em que
vivi por 40 anos com meus pais e onde eles viveram durante 49 anos. O projeto
da exposição foi elaborado depois que eles tiveram de se mudar por causa de uma
doença que, há três anos, impossibilitou a minha mãe de se locomover.
No final de 2011, comecei a fotografar
essa casa, pois queria guardar dela algum registro. Guardava na lembrança as
imagens das casas de minhas avós e de uma tia-avó, casas onde passei minha
infância e que foram demolidas e das quais não ficou nenhuma documentação. Não
queria o mesmo destino para a casa de meus pais. Com as imagens reunidas,
concebi o trabalho Lugares que Moram para Sempre, premiado no 37º
SARP, em 2012.
Na exposição Dias e Noites,
pretendo mostrar as relações entre a atual estrutura física da casa - as
rachaduras, os mofos nas paredes, reboques e piso deteriorados pela ação do
tempo - e nossa estrutura interna e seu natural processo de envelhecimento,
no caso o também envelhecimento de meus pais e a doença que atingiu minha mãe.
As fotografias mostram uma série de
objetos de decoração e de arte que minha mãe sempre colecionou. Intactos e bem
cuidados, eles aparecem em contraponto com a casa e a passagem do tempo, como
nossa aparência externa e certos pesos que se acumulam ao longo dos anos e que
precisamos deixar de lado para atravessar uma fase da vida como a que meus pais
vivenciam no momento.
Além disso, a casa abriga momentos e
datas importantes em que vivemos sob seu teto. Nela comemoramos os meus 15
anos, as bodas de prata e de ouro de meus pais, o noivado de minha irmã, o
batizado do primeiro sobrinho, os 80 anos do meu avô paterno... Enfim ela expõe
também sua memória afetiva.
Meus pais se mudaram da casa em agosto
de 2012, porém alguns objetos, fotografias e documentos lá permanecem. A casa
continua, ao mesmo tempo, contraditoriamente habitada e vazia.
Dias e Noites representa, portanto
a intenção de manter intacta a situação atual da casa, com marcas deixadas pelo
tempo, os objetos ainda adornando os cômodos e exibir imagens a partir de álbuns
de família e imagens realizadas meses antes da mudança.
Adriana Amaral